Números apontam enorme desafio sobre o tema e histórias mostram que o preconceito é real, mas com avanços que são inspiradores
Ainda falta muito, mas as empresas de tecnologia têm buscado ser ambientes mais respeitosos quando falamos da presença da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho.
E essa não é uma preocupação apenas corporativa, é uma necessidade real e urgente, que mexe diretamente com a vida de muitas pessoas. “Decidi que optaria somente por empresas que apoiassem a diversidade e desde então minha saúde mental é outra. Ninguém infere sobre o seu relacionamento, sou livre para ser eu mesma tanto com minha liderança quanto meus liderados e clientes”, desabafa a gerente de SRE Alice Paixão, que trabalha na Sanar, uma startup focada em soluções para jornada do médico.
Ela conta que no passado já sofreu muito com preconceito: “No meu primeiro trabalho eu tinha que me dividir em duas pessoas, profissional e pessoal. Me doía quando falávamos sobre nosso final de semana e eu precisava trocar o pronome da minha namorada e simular que eu namorava um homem, com medo de sofrer homofobia ou até mesmo perder meu emprego”. A desenvolvedora de software, Carol Santos, também relata dificuldades que já enfrentou. “É muito difícil se posicionar quando não se tem uma rede de apoio e também é muito difícil ser forte o tempo inteiro pra ignorar as “piadinhas” e comentários de ódio enrustidos de opinião própria”, afirma. No mês de junho, marcado pela mobilização e luta LGBTQIA+ e pelo Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, 28, ouvimos profissionais que fazem parte da comunidade para saber como tem sido suas rotinas no “mundo das startups”. Afinal, este é mesmo um ambiente mais agradável? Para o awareness da Sanar, Marcelo Cravo, a pergunta pode ser respondida com tranquilidade. “Já tive experiência em outra startup e sinto que existe um local mais "seguro" e acolhedor para a gente. Me sinto completamente à vontade para ser quem eu sou e nunca senti nenhum tipo de dúvida sobre a minha qualidade de entrega por ser gay”, conta. O crescimento econômico do mercado e a necessidade de contratar profissionais mais qualificados é outro ponto que contribui para a melhoria do cenário. “A alta procura por desenvolvedoras e pessoas da área de tecnologia em geral tem feito com que muitas empresas se modernizem em uma velocidade maior e abracem mais grupos de diversidade”, explica a gerente de tecnologia da Sanar, Priscila Lopes. É preciso mais estudos para avançar mais No Brasil, o preconceito se reflete também na falta de números. Praticamente não há dados oficiais sobre a população LGBTQIA+, já que pesquisas nacionais, como o Censo, ainda não abordam a orientação sexual e a identidade de gênero. Em janeiro de 2021, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo lançou o 1º Mapeamento de Pessoas Trans da cidade, mostrando que apenas 58% da população transexual e travesti atua em funções remuneradas, sendo a maioria no mercado informal.
Com o objetivo de avançar neste aspecto, a consultoria Mais Diversidade realiza uma pesquisa para mapear os perfis pessoal e profissional da população LGBT no mercado de trabalho. A intenção é coletar dados que tornem mais claros os obstáculos e as dificuldades enfrentadas por pessoas que compõem a sigla, além de impulsionar a diversidade no mercado. “Trabalhei em empresas onde eu era motivo de piadinhas e risadinhas, simplesmente por não baixar a cabeça e fingir ser alguém que eu não era”, comenta Marcelo Cravo. Ele conta ainda que quando fez a entrevista para a startup que trabalha atualmente, ouviu do marido para ter cuidado na entrevista de emprego, já que o entrevistador poderia ser homofóbico e prejudicá-lo. “Eu nem pensei duas vezes, quando me apresentei deixei claro que eu era gay e casado. Não me arrependo e faria novamente em outra empresa”, completa. O que esperar do futuro? Quando pensa no futuro, Priscilla Lopes é otimista. “Espero ver empresas genuinamente se preocupando com o acolhimento e cuidado com a carreira das funcionárias LGBTQIA+, e que nenhuma pessoa tenha que se esconder ou "disfarçar" sua identidade por conta de julgamentos da sociedade”, diz. Clara Brito é estagiária da Sanar e está no começo da sua trajetória profissional. A jovem espera que sua jornada seja construída em um ambiente cada vez mais saudável. “Eu só gostaria de continuar a ser tratada com respeito, e sabendo que para os meus superiores e pares, de nada influencia a minha sexualidade”, explica.
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